O ALENTEJO NA HISTÓRIA 1
Martim Rodrigues de Abreu um arronchense do século XIV


Após a morte do Rei D. Ferenando I, ocorrida em 22.10.1383, a sua viúva, D. Leonor Teles, Regente do Reino, proclamou Rainha de Portugal a filha de ambos, D.Beatriz, então com 11 anos de idade, casada, havia 5 meses com D. João I, Rei de Castela.
Desta maneira, os Reis de Castela passavam a reinar em Portugal, consumando-se a tão almejada união ibérica.. Esta situação provocou imediatamente uma onda de reacções contrárias que, a partir de Lisboa, se foi espalhando por todo o país. 
Na capital, sobressai então a figura de um homem excepcional, já de avançada idade e quase imobilizado pela doença, um legista que fora Chanceler dos Reis D. Pedro I e D. Fernando, de nome Álvaro Pais, que concebe um audacioso golpe de estado revolucionário, para a execução do qual obtém o acordo de D. João., Mestre da Ordem de Avis, bastardo de D. Pedro I.
No dia 6 de Dezembro de 1383, o plano é posto em prática. O Mestre de Avis dirige-se ao Paço e juntamente com Rui Pereira mata o Conde Andeiro, amante da Rainha Regente. Conforme combinado, um pajem sai para a rua, gritando que queriam matar o Mestre de Avis. Era o sinal combinado que Álvaro Pais esperava para, á frente de um grande número de populares, se dirigir ao Paço, que só não fora invadido devido à pronta acção de Mestre de Avis que desde o primeiro momento manteve o domínio da situação.
No dia seguinte, D. Leonor Teles parte para Santarem e D. João é eleito Regedor e Defensor do Reino.
Não querendo perder tempo, perante a iminência da reacção casterlhana, o Mestre de Avis estabelece a sua estratégia. Nomeia o Doutor João das Regras, enteado de Álvaro Pais, para o cargo de Chanceler do Reino, envia emissários a Inglaterra com o objectivo de conseguir apoio militar em armas e soldados e encarrega D. Nuno Álvares Pereira da defesa do Alentejo com o cargo de Fronteiro de Entre o Tejo e Guadiana.
Nuno Álvares, contando, à partida, com o apoio de Évora, Montemor-o-Novo e Estremoz, vai procurando agregar ao grupo inicial de combatentes toda a gente disponível, até que, reunidos cerca de 1400 homens, resolve dar combate aos castelhanos. 
O local por Nuno Álvares hábilmente escolhido foi o Campo dos Atoleiros, próximo de Fronteira. Aqui, a 6.4.1384, adoptando a táctica do quadrado, vence um inimigo em numero consideravelmente superior, inscrevendo na História um feito memorável e determinante na consoliudação da independência de Portugal.
Entre os combatentes de Atoleiros, contavam-se muitos naturais de Elvas, nomeadamente o grupo chefiado pelo intrépido Gil Fernandes, cujas façanhas e bravura eram conhecidas e admiradas em todo o Alentejo, sobretudo depois de ter escorraçado o Alcaide de Elvas, Álvaro Pereira, o qual, após o falecimento de D. Fernando, tomara o partido de Castela.
Dos companheiros de Gil Fernandes, destacava-se Martim Rodrigues de Abreu, nascido com grande probabilidade em Arronches, onde seu pai, Rui Gomes de Abreu, da família dos Abreu de Elvas, residia.
Depois da subida ao trono, D. João I recompensou muitos dos que se bateram pela sua causa, especialmente no Alentejo, palco das mais importantes opertações militares, conduzidas por D. Nuno Álvares Pereira, futuro Condestável do Reino. A Martim Rodrigues de Abreu é, então, feita mercê dos Direitos Reais, Rendas e Reguengos da "Contenda" de Arronches e de seu termo " assim como os havia Gil Fernandes de Elvas" (Chancelaria de D. João I, Livro II-41, Coimbra, 6.2.1423). Faz-se notar que esta mercê consistia apenas na fruição de direitos que pertenciam à Coroa, que assim continuava a deter a propriedade plena, conforme desde sempre os arronchenses reclamaram.
Martim Rodrigues de Abreu casou com uma irmã de Vasco de Lobeira, o autor do celebrado romance de Cavalaria "Amadis de Gaula", ambos filhos de João de Lobeira, poeta do Cancioneiro da Vaticana. O sogro deste, Domingos Joanes Cabeça, Procurador de Elvas às Cortes de 1369 (D. Afonso IV), havia instituído um morgado que vinculou à Capela de Santa Susana, em Santa Maria (Igreja de Nossa Senhora da Assunção), em Elvas. Esse morgado passaria aos Abreu de Elvas, pelo casamento de Martim Rodrigues de Abreu e depois aos Pessanha, nome por que veio a ficar conhecida a referida Capela.
Martim Rodrigues de Abreu teve do seu casamento uma única filha, Maria, que viria a casar com Antão Pessanha, Fronteiro Mor do Algarve, falecido em combate na batalha de Aljubarrota, filho do célebre Lançarote Pessanha, III Almirante Mor do Reino, na sua família. Desta maneira, descendem de Martim Rodrigues de Abreu, o donatário dos Direitos Reais de Arronches, muitas famílias históricas de Portugal, tais como as do Duque da Terceira, dos Marqueses de Arronches-Duques de Lafões, dos Marqueses de Alegrete, etc.

Luis Bivar de Azevedo


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