O Castelo de Mourão e os seus Alcaides-Mores. Notas históricas e genealógicas.

O Castelo de Mourão, património histórico e simbólico dos Mendoça Furtado, senhores donatários e Alcaides-Mores de Mourão, de juro e herdade, por mercê do Príncipe D. João, Governador do Reino (futuro Rei D. João II), Mestre da Ordem de Santiago, em 22.VIII.1476, na pessoa de
  DIOGO DE MENDOÇA FURTADO (1450-1516), I Alcaide-Mor de Mourão, na sua família, companheiro de armas daquele Príncipe, em Arzila (1471) e em Toro (1476), tio avô paterno do seu filho bastardo, o Senhor D. Jorge, Duque de Coimbra, Mestre das Ordens de Santiago e de Avis. Diogo de Mendoça achou-se também, em 1513, na conquista de Azamor, acompanhando D. Jaime, IV Duque de Bragança, que em 1520 se tornaria seu genro, pelo casamento com sua filha, D. Joana de Mendoça, fundadora do Convento das Chagas, em Vila Viçosa. Diogo de Mendoça casou com D. Brites Soares de Albergaia, filha natural de Fernão Soares de Albergaria, Sr. da Vila do Prado (Braga) e de Maria Gonçalves Alcafachoa. Foi sucessor,
  PEDRO DE MENDOÇA FURTADO (1480-1548), II Alcaide-Mor de Mourão, acompanhou seu pai na conquista de Azamor e foi fidalgo do Conselho de D. João III. Casou com D. Teresa de Lima, neta paterna de D. Leonel de Lima, Alcaide-Mor de Ponte de Lima, I Visconde de Vila Nova da Cerveira (o 1º Visconde de Portugal). Sucedeu seu filho,
  DIOGO DE MENDOÇA FURTADO (1505-1572), III Alcaide-Mor de Mourão, serviu na India, tendo participado nas jornadas de Batecalá e de Tremel, sendo depois nomeado Capitão de Chaúl. Em 1565 acompanhou a Flandres D. Maria, filha do Infante D. Duarte, Duque de Guimarães, para casar com Alexandre Farnese, herdeiro dos II Duques de Parma. Casou com sua prima D. Maior Manuel, filha de D. Juan Manuel de Villena; III Sr. de Cheles e de sua mulher, D. Isabel de Mendoça. Tiveram sucessor, seu filho
  FRANCISCO DE MENDOÇA FURTADO (1545-1630), IV Alcaide-Mor de Mourão. Em 1571, serviu em Tanger a sua Comenda de São Pedro de Pinhel, na Ordem de Cristo. Acompanhou o Rei D. Sebastião nas jornadas de África, em 1574 e 1575, achando-se na batalha de Alcacer Quibir, ficando cativo, mas conseguindo libertar-se, pagando o resgate à sua custa. Em 1580, quando da invasão de Portugal pelo Duque de Alba, não resistiu ao assédio e promessas dos castelhanos entre os quais alguns parentes de sua mãe, negociando com eles a entrega do Castelo de Mourão. Esta traição valeu-lhe o governo e a Capitania General de Mazagão (1582-1586). Casou com D. Joana de Noronha, filha herdeira de D. Pedro de Almada-Avranches, Comendador de Ansiães e Alcaide-Mor de Santiago de Cacém, Mestre Sala de D. João III, Embaixador ao Imperador Carlos V, e de sua mulher D. Brites de Noronha, herdeira da Casa Pantoja e dos Alcaides-Mores de Santiago de Cacém. Foi sucessor seu filho
  PEDRO DE MENDOÇA FURTADO (1592-1654), V Alcaide-Mor de Mourão, serviu em Tanger, com 5 cavalos à sua custa, perdendo um olho em combate. Herdou a Casa e Alcaidaria de sua mãe. Foi um dos principais, se não o principal, Restaurador de 1640, devendo-se-lhe a aceitação definitiva da Coroa por parte do hesitante Duque de Bragança, e em vésperas da revolução, decidido já abortar a acção, por falta de condições, a tal se ter firmemente oposto, conseguindo convencer e reanimar os seus companheiros e manter a data prevista para o golpe restaurador. Subindo ao trono D. João IV, Pedro de Mendoça foi nomeado seu Guarda-Mor, cargo de que foi o ultimo em Portugal. Ao longo da sua vida, foi cumulado de honrarias por parte do soberano, destacando-se, entre outras, o ser Lugar-Tenente do Príncipe herdeiro D. Afonso (futuro Rei D. Afonso VI), enquanto Comendador-Mor da Ordem de Santiago. Casou 1º com D. Catarina de Menezes, filha herdeira de D. João Telo de Menezes, Sr. de Oliveira do Bairro e de sua mulher D. Catarina de Menezes. Casou 2º com D. Antónia de Mendoça e Albuquerque, filha de D. Jerónimo Manoel, o "Bacalhau", Comendador de são Mamede de Traviscoso e de São Martinho da Amoreira, Porteiro-Mor de Filipe I e de sua mulher D. Maria de Mendoça e Albuquerque, IV Sra. do Morgado dos Albuquerque, em Azeitão, depois chamado da "Bacalhoa". Do 1º casamento foi filho
  FRANCISCO DE MENDOÇA FURTADO (1620-depois 1674) V e ultimo Alcaide-Mor de Mourão, na sua família. Bateu-se nas campanhas da Restauração, defendendo o Castelo de Mourão e participando em várias acções, nomeadamente, a tomada de Valencia de Bomboy, conjugando as suas forças com as do seu primo D. Francisco de Sousa, III Conde do Prado e futuro I Marquês de Minas. Em 1649, governou a praça de armas de Castelo Branco. Anos mais tarde, em 1658, é nomeado Governador e Capitão General de Mazagão. Francisco de Mendoça, tal como seus irmãos Luís e Jerónimo, sempre se manifestaram a favor de D. Afonso VI e de uma aliança com a Espanha, o que não agradava ao todo poderoso Infante Regente D. Pedro. Ao contrário, porém, de seus irmãos, que enfrentavam o Regente, Francisco decidiu aceitar as propostas do Embaixador de Castela, Marquês de Heliche, passando a Madrid onde foi agraciado pela Rainha com o título de Marquês de la Torre de Almendralejo e o cargo de Regidor de Fregenal de la Sierra. Em Outubro de 1673 é abortada uma conspiração para repor no trono D. Afonso VI, então preso em Angra, nos Açores, sendo acusado Francisco de Mendoça de ser o cabeça do movimento. Foram feitas árias prisões, mas Francisco logrou fugir para Espanha, escapando assim à morte, destino que tiveram os outros conspiradores, condenados por crime de lesa-majestade. Casou com D. Isabel Francisca de Mendoça, filha de Francisco de Melo, Monteiro-Mor do Reino, Restaurador de 1640 e de sua mulher D. Luisa de Mendonça, não tendo geração. Teve, no entanto, enquanto solteiro, de D. Maria de Melo, filha herdeira de D. Paulo de Moura e de sua mulher D. Brites de Melo, uma filha natural, D. Maior de Mendoça, a qual do seu casamento com João de Almada e Melo, Alcaide-Mor de Palmela, com geração que toca os Viscondes de Vila Nova de Souto d' El-Rei, os Condes de Tavarede, os Marqueses de Pombal, etc.
Do 2º casamento de Pedro de MendoçaFurtado foram filhos, entre outros,
  D. LUÍS DE MENDOÇA FURTADO E ALBUQUERQUE (1627-1677), VIII Sr. do Morgado e Quinta da Bacalhôa, em Azeitão, I Conde de Lavradio, com o senhorio da vila (1670), na sua família, Capitão-Mor das Naus da India (1651), General dos Galeões de Alto Bordo (1657), Governador da India (1661), XXXI Vice-Rei da India (1670-1677), do Conselho de Estado. Com apenas 13 anos, acompanhou seu pai, no dia 1 de Dezembro de 1640, no assalto ao Paço, achando-se presente nos aposentos da Duquesa de Mantua, quando esta foi obrigada a renunciar ao poder. Não casou nem deixou geração, tendo nomeado seu herdeiro universal seu irmão Jerónimo, também presuntivo herdeiro nos bens da Coroa. O segundo filho do 2º casamento de Pedro de Mendoça foi
  JERÓNIMO DE MENDOÇA FURTADO E ALBUQUERQUE (1630-1692). Aos 13 anos foi admitido na Ordem de São João de Jerusalem, partindo para Malta,onde passou grande parte da sua juventude. Daqui deslocou-se à Catalunha onde procurou aperfeiçoar a sua preparação militar. Juntou-se, em seguida a seu irmão Francisco, em Mourão, onde este exercia as funções de Alcaide-Mor, na ausência do pai na Corte. Em Agosto de 1653, alista-se no exército do Alentejo, sob o comando do General de Cavalaria André de Albuquerque Ribafria. No posto de Capitão de cavalos couraças, distinguiu-se no recontro de Arronches, na conquista de Mata Mouros e do castelo de Oliva, na recuperação de Mourão, sendo pelas suas acções agraciado com uma comenda. Em 1660 é nomeado Mestre e Campo de um Terço de Lisboa, comandando um efectivo de 2000 homens. Em 8.VI.1663, bateu-se valorosamente na batalha do Ameixial, sendo distinguido pelo General Conde de Vila Flôr para levar a notícia da vitória ao Rei D. Afonso VI, na Corte de Lisboa. Nessa altura, o Rei fez-lhe mercê do cargo de Governador e apitão General de Pernambuco, onde se manteve até 1666, um ano antes de terminar o mandato, devido à feroz oposição dos "senhores de engenho", que sempre haviam resistido à autoridade do representante do Rei de Portugal e, em especial, à "mão firme" e determinação de Jerónimo de Mendoça. Regressado ao Reino, é colocado por seu irmão Luís na administração do Morgado da Bacalhoa e dos negócios da Casa. Quando Luís de Mendoça parte para a India como Vice Rei, Jerónimo torna-se um alvo mais fácil para os seus inimigos, entre os quais muitos apoiantes do Regente. Avisado de que se preparava uma cabala contra ele, resolveu refugiar-se em Jerez de los Caballeros, na raia fronteiriça, a meio caminho de Mourão e de Fregenal de la Sierra, onde se encontrava seu irmão Francisco. Em 1673, porém, cairia numa armadilha perpretada pelo sinistro padre jesuíta Manuel Fernandes, confessor e conselheiro do Infante D. Pedro. Pretendendo provar a sua lealdade à Coroa e assim regressar a Portugal, Jerónimo, possuidor de informações importantes sobre acções que se preparavam em Madrid contra Portugal, delas deu a conhecer ao padre Manuel Fernandes com a intenção deste as transmitir ao Regente. O jesuíta, tal como já procedera com o Conde de Castelo Melhor, quando exilado em Madrid, guardou para si o essencial das informações e deturpou-lhes o sentido, insinuando no espírito do Regente que Jerónimo estava envolvido na trama por este denunciada. Entretanto, Jerónimo de Mendoça, regressa a Portugal e instala-se na Quinta da Bacalhoa, consciente de que cumprira o seu dever, mas com surpresa é avisado de que a sua prisão estava iminente. Tenta ainda atravessar a fronteira, mas estando ferido de um acidente, acabou por ser detido pelos esbirros do Infante. Foi encarcerado na fortaleza de São Julião da Barra, onde permaneceria 7 anos, acusado do crime de lesa-majestade na pessoa do Regente, por cumplicidade na abortada conspiração de Outubro de 1673, alegadamente encabeçada por seu irmão Francisco, que ele, Jerónimo, nunca denunciou. Durante a prisão, foi-lhe proposta, por diversas vezes, a liberdade se confessasse o crime de que fora acusado, o que sempre recusou, insistindo na sua inocência e reafirmando que o Regente podia confiscar-lhe a vida e os bens, mas nunca a sua honra. Entretanto, no dia 10 de Maio de 1674, foram degolados no cadafalso os principais alegados conspiradores, D. Fernando Mascarenhas, D. Gaspar e D. João Maldonado, D. João de Melo e Abreu, sendo Francisco de Mendoça, que fugira para Espanha, degolado em estátua. Em 3 de Janeiro de 1680, foi finalmente proferida a sentença de Jerónimo de Mendoça, condenando-o à morte, com execução fixada para o dia 5 do mesmo mês. Na manhã desse dia, a Princesa Isabel Maria, então com 11 anos, pediu a seu pai, o Regente D. Pedro, o perdão da vida de Jerónimo de Mendoça, atendendo a que se festejavam os Reis Magos, graça que foi concedida, sendo a pena comutada para degredo perpétuo para a India. Jerónimo acabaria por aceitar, depois da muita insistência de sua família, sobretudo de seus irmãos Nuno e Mariana Josefa. Acrescente-se, no entanto, que para este volte-face contribuiu fortemete a influência junto do Regente do I Marquês de Fronteira, D. João Mascarenhas, grande amigo dos irmãos Mendoça Furtado, o qual pretendia, também, casar uma das suas filhas com Nuno de Mendoça, irmão de Jerónimo, que acabara de renunciar ao seu estado eclesiástico (cónego da Sé de Évora) para poder substituir seu irmão na sucessão da Casa e Morgado da Bacalhoa, uma vez que Jerónimo tinha o impedimento decorrente da condenação que sobre ele recaiu. Jerónimo de Mendoça seguiu numa nau de viagem para a India para cumprir o degredo, mas mesmo assim não se livrou do "longo braço" do Infante, que encomendou o seu assassínio ao capitão da nau. Este, porém, não teve coragem para executar a missão, acabando por entregar a Jerónimo o veneno destinado a matá-lo e a denunciar o mandante. Jerónimo de Mendoça viria a falecer em Goa em 5. I. 1692. A sua vida atribulada, a intransigente fidelidade à causa do Rei deposto, D.Afonso VI, e a consequente animosidade que desde sempre lhe votou o Regente, não lhe proporcionaram as condições materiais e jurídicas para se casar, conforme era seu desejo e da sua família e a sua posição de herdeiro de uma grande Casa exigiam.Teve, porém, em 1662, uma filha natural,. D. Ana Maria de Mendoça e Albuquerque, nascida em Baleizão (Beja), havida, ao que se julga, em D. Ana Henriques, que esteve recolhida no Convento de Santa Clara de Beja, filha de Gil Vaz Lobo, o Velho e de sua mlher D. Briolanja Henriques. Através desta filha, continuou a descendência de Jerónimo de Mendoça Furtado e Albuquerque até à actualidade, nos Bivar Weinholtz (Bivar Albuquerque de Mendoça e Weinholtz) e nos Bivar de Abrantes e de Torres Novas.
Pelas razões apontadas, Jerónimo de Mendoça, não só foi injustamente acusado de crime que não cometeu, como sofreu as consequências jurídicas dessa condenação, ao ser impedido de suceder nos bens vinculados e da Coroa. Assim, o Morgado da Bacalhoa passou a seu irmão Nuno, que veio a casar, já idoso, não tendo tido geração. Pela morte deste, herdou a Casa sua irmã D. Mariana Josefa, casada com Pedro Guedes de Miranda Henriques, X Sr. de Murça, sendo seus descendentes, entre outros, os Condes de Murça, de São Lourenço, Marqueses de Sabugosa e os Condes de Mesquitela, ultmos possuidores judiciais da Quinta da Bacalhoa.  .

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