HERALDICA DOS BIVAR
ALGUMAS
NOTAS
São conhecidas, pelo menos, 9 brasões nos
armoriais espanhóis, atribuídos ao apelido Bivar, sendo que nenhum apresenta
qualquer semelhança com as armas usadas e/ou concedidas aos Bivar, em Portugal.
Daí o interesse que reveste a descoberta recente de um” Real despacho de
hidalguia y blasones”, outorgado em 3.VIII.1906, assinado pelo decano dos Cronistas Reis de Armas de
Espanha, onde se apresentam as armas dos Diaz de Vivar, que apenas diferem das
dos Bivar de Portugal pela bordadura com a legenda AVÉ MARIA.
Usando as mesmas armas, entre tantas outras, é
lícito admitir que os Diaz de Vivar e os Bivar de Portugal provenham de um
tronco comum, porventura, um Rodriguez, cujas armas figuram no segundo partido
das armas em questão, conforme sugere Bivar Guerra, apoiado em Pifferrer. Por
outro lado, presumindo que as armas reais de Castela, Leão e Aragão, do 1º
partido, corresponderiam a uma composição heraldica honrosa, por feitos
praticados em benefício desses reinos, teriamos também que esse Rodriguez
haveria de ser reconhecido como descendente do Cid ou dos seus colaterais.
Quanto aos feitos, recorde-se que Fernando de
Aragão e Isabel de Castela casaram em 1469, mas só em 1479 estaria consolidada
a união dos dois reinos, pelo que só a partir dessa data seria viável a
concessão da peça honrosa em causa. No entanto, segundo a opinião autorizada de
Faustino Menendez Pidal y Navascués (Las
armas de los Mendoza, in Armas e Trofeus, Tomo VI, nº 1, 1965), D. Juan de
Aragon (1397-1479), futuro Rei D. Juan II de Aragão, sendo ainda apenas Duque
de Peñafiel e Conde Mayorga, trazia como armas: de Aragão, partido de Castela,
cortado de Leão. Mais tarde, já Rei de Navarra (1425) e herdeiro de Aragão,
adptou o escudo franchado de Aragão, Castela e Leão, de que usaram tanto os
seus descendentes bastardos como os ultimos Reis de Navarra, não sendo de
afastar a hipótese de ter concedido a mercê dessa composição heraldica como
peça honrosa.
Lembremos, igualmente, que o nosso Rei D. Afonso
V, por Carta de 4.IV.1476, concedeu a Alvaro Lopes de Chaves o privilégio de
usar nas armas o Castelo e o Leão, pelas suas acções naqueles reinos.
Em 2001, a Real Academia de la Historia, de
Espanha, deu a conhecer, através do seu boletim, o “Libro de los linajes más
principales de España”, escrito por Diego Hernandez de Mendoza, nos ultimos
anos do século XV, onde se referem que os Rodriguez, de Bardocedo, são
reconhecidos como descendentes de Diogo de Bivar, unico filho varão do Cid,
morto em combate na batalha de Consuegra, com cerca de 22 anos.
No Dicionário Nobiliário Español, de Julio Atienza,
na pagina 1146, vêm referidos os Rodriguez de Vivar, de Castela, cujas armas
nada têm a ver com as usadas pelos Bivar, de Portugal e pelos Diaz de Vivar.
Nos dois armoriais “oficiais” portugueses, o Livro
do Armeiro-Mor, de João du Cros e o Livro da Torre do Tombo, de António
Godinho, organizados em principios do século XVI, no reinado de D. Manuel I, as
armas atribuídas aos Bivar são, surpreendentemente, diferentes das usadas. Com
efeito, com a designação de “Guivar”, no primeiro armorial, e de Vivar no
segundo, essas armas são: de ouro, com uma águia de vermelho estendida, armada
e membrada de negro e carregada de um crescente de prata no peito, tendo como
timbre a águia do escudo.
Tal como aconteceu com outros apelidos (Gorges por
Borges), houve certamente confusão, por parte de João du Cros, repetida por
António Godinho. Essas armas, parecem corresponder, por deturpação, ao apelido
Aguilar, reflectindo o desconhecimento que Du Cros tinha da heraldica familiar da Península.
Interessante, no entanto, de registar o facto de
Felgueiras Gayo, no seu Nobiliário (Azevedo, 21.18 e 171.18), chamar ao nosso Afonso de Bivar (II), Afonso
de Bivar e Guinara ou Guera; e um manuscrito genealógico da Torre do Tombo
chamar ao mesmo, Afonso de Bivar Guevara. Quanto a este ultimo caso, tendo em
atenção os 1º e 4º quartéis do brasão conhecido dos Guevara, verifica-se que
essa figuração heraldica é semelhante ao 2º partido das armas de uns Bivar de
Espanha, que têm no 1º partido as armas simples
atribuídas aos primitivos Bivares (em campo verde uma banda vermelha
perfilada de ouro). Estes Bivar, habilitaram-se, em 1641, à ordem de Santiago,
na pessoa de D. Pedro Lope de Bivar Salazar y Ureta, tambem referido no Real
despacho em apreço. Por informação que me foi dirigida pessoalmente por D.
Faustino Menendez Pidal y Navascués, em 5.III.1992, este autor estava
convencido, embora sem provas conclusivas, de que destes Bivar , cerca de dois
séculos atrás, descenderia o nosso Afonso de Bivar (I).
Recordamos ainda que o brasão Bivar , tal como
consta do Real Despacho referido (sem a bordadura) e como tem sido usado entre
nós, foi, ao que parece, concedido pela primeira vez, em Portugal, em 29.V.1459,
a um Alvaro de Figueiredo que se arrogava descendente do Cid,; depois foi
atribuído em 1524, 1528, 1537, 1573, 1575, 1582 (o 1º nos nossos Bivares),
1636. Em 25.X.1733, foi reconhecido ao General Luis Garcia de Bivar o mesmo
brasão, como armas de sucessão.
Luis Bivar de Azevedo
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